O que algoritmos fazem com a língua nas redes?

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A Língua em Evolução: Como Algoritmos e Redes Sociais Estão Moldando o Futuro da Comunicação

Você já parou para pensar em como as palavras que usamos mudam? E como essa mudança acelerou de forma vertiginosa nos últimos anos? Adam Aleksic, mais conhecido online como o “Etymology Nerd”, um influenciador com mais de 3 milhões de seguidores em diversas plataformas, mergulha profundamente nesse universo em seu livro recém-publicado, “Algospeak: How Social Media is Transforming the Future of Language”.

Com formação em linguística e governo por Harvard, Aleksic começou seu blog sobre a origem das palavras ainda na nona série, impulsionado por uma fascinação inata pela linguagem. Hoje, ele é uma voz importante na discussão sobre como os algoritmos das redes sociais estão não apenas influenciando, mas de fato transformando a forma como nos comunicamos e, consequentemente, nossa cultura.

A Unicidade da Transformação Digital: Mais do que Escrita ou Imprensa

A história da comunicação humana é marcada por grandes revoluções: o surgimento da escrita, a invenção da imprensa e a chegada da internet. Cada uma delas alterou profundamente a forma como interagimos com a linguagem. No entanto, Adam Aleksic argumenta que o impacto das redes sociais, impulsionado pelos algoritmos, representa um paradigma de mudança totalmente novo e singular.

  • Escrita: Afastou-nos da tradição oral de contar histórias com rima e métrica, levando até Platão a temer que nos tornasse piores na memorização.
  • Imprensa: Difundiu a informação mais rapidamente, democratizando o acesso à alfabetização, mas ainda mantinha “porteiros” que controlavam quem podia contar a história.
  • Internet: Rompeu com esses porteiros, permitindo que qualquer pessoa se tornasse um “contador de histórias”, um salto gigantesco na difusão da informação.

Mas o que torna as redes sociais diferentes? A centralização da internet no final dos anos 2010, aliada à forma como os algoritmos impulsionam o conteúdo por meio de feeds de recomendação personalizados, está redefinindo o próprio ato de comunicação. A informação não apenas é difundida, mas é curada e apresentada de uma maneira que altera a nossa percepção e interação com ela.

O Papel Inegável dos Algoritmos na Evolução Linguística

Os algoritmos não são meros espectadores; eles são agentes ativos na formação da nossa linguagem. As prioridades das plataformas, muitas vezes focadas em engajamento e retenção, ditam como nossa linguagem se desenvolve. Esse ciclo constante impulsiona tendências, cria “in-groups” (grupos internos) que desenvolvem novas linguagens e amplifica palavras que se tornam virais.

Criadores de conteúdo, buscando relevância e alcance, replicam palavras e frases que percebem estar “pegando fogo”, retroalimentando o algoritmo e empurrando essas palavras para uma existência ainda mais ampla. É um ciclo virtuoso (ou vicioso, dependendo do ponto de vista) de amplificação que leva a uma mudança linguística mais rápida do que nunca. A grande lição do livro de Aleksic é que os algoritmos estão afetando profundamente nossa sociedade e, por isso, precisamos estar atentos.

Algoritmos, Influenciadores, Linguagem e Você: Um Metáfora Poderosa

Adam Aleksic utiliza uma metáfora impactante para descrever a propagação da gíria na era digital: “os algoritmos são os culpados, os influenciadores são os cúmplices, a linguagem é a arma e os leitores são as vítimas.”

  • Culpados (Algoritmos): São os responsáveis pela perpetuação da gíria em velocidade recorde. Eles criam o ambiente e o mecanismo para a rápida disseminação.
  • Cúmplices (Influenciadores): Embora os algoritmos não criem as palavras sozinhos, os influenciadores e outros usuários desempenham um papel crucial. Ao usar e popularizar essas palavras, eles “alimentam” o algoritmo e aceleram o processo.
  • Arma (Linguagem): A linguagem em si se torna o veículo, o instrumento através do qual essas ideias e expressões se espalham.
  • Vítimas (Leitores/Usuários): Eventualmente, essas palavras entram em nosso vocabulário, muitas vezes sem que percebamos a origem ou a velocidade de sua inserção. Somos “atingidos” e “influenciados” por essa rápida transformação.

Do Trending Topic ao Dicionário: Como a Gíria Digital Ganha Status Oficial

Como palavras como “skibidi”, “delulu” (delirante) ou “unalive” (matar ou morrer) – que surgem no caldeirão das redes sociais – conseguem chegar aos dicionários? Aleksic explica que lexicógrafos, os profissionais que compilam os dicionários, baseiam-se na sustentabilidade do uso. Se uma palavra é utilizada em grande escala e por um tempo suficiente para ser culturalmente importante, ou seja, se muitas pessoas a conhecem e a usam, ela é adicionada.

O que antes levava décadas ou séculos, agora pode levar anos, ou até meses, graças à aceleração dos algoritmos e à amplificação dos influenciadores. A velocidade com que a gíria se espalha é sem precedentes.

A Dualidade de um Linguista e Crítico Cultural

Aleksic, como linguista, expressa uma empolgação genuína com a velocidade da evolução da linguagem. Para ele, a língua é uma forma de conexão e, ver essa rapidez é fascinante. No entanto, como crítico cultural, ele demonstra preocupação:

  • Comodificação da Linguagem: A linguagem está mais mercantilizada do que nunca, usada como ferramenta para engajamento e lucro.
  • Influência de Grupos Específicos: Grupos com ideologias problemáticas, como os “incels” (celibatários involuntários), conseguem disseminar seu vocabulário e, por extensão, sua ideologia. Palavras como “pilled”, “maxxing” e “sigma”, originárias desse contexto misógino, acabam se infiltrando no uso geral, mesmo por pessoas que não compartilham de tais visões. “Se eu gosto de burritos, posso dizer: ‘Eu sou tão burrito-pilled’, ou se eu quero comer mais burritos, posso dizer ‘Eu sou burrito-maxxing'”, exemplifica Aleksic. O uso dessas palavras indica que a cultura por trás delas está nos influenciando, e que a forma como as ideias se espalham online pode ser perigosa.

Ele enfatiza que, ao prestarmos atenção em como a linguagem está mudando, também devemos prestar atenção em como a cultura está mudando.

Linguagem como Forma de Resistência e Comentário Cultural

Apesar das preocupações, Aleksic vê um lado belo e potente na rápida evolução linguística. Para ele, a linguagem é quase uma forma de resistência. Cada novo meme que surge é uma força cultural reativa à “super-organização da sociedade”.

Ele cita exemplos como “clanker” (um termo pejorativo especulativo para inteligência artificial) e “Italian Brain Rot” (um meme que usa a IA de forma subversiva para gerar personagens absurdos). Ambos criam um comentário sobre o nosso atual estado de progresso tecnológico. Muitos memes e gírias estão emergindo como reflexo direto do nosso momento cultural, e há algo realmente significativo nisso.

A análise de Adam Aleksic nos mostra que a linguagem nunca foi estática, mas que os algoritmos injetaram uma dose de esteroides em sua evolução. É crucial entender que, ao interagir com as redes sociais, não estamos apenas consumindo conteúdo, mas também participando ativamente da remodelação de um dos pilares mais fundamentais da nossa existência: a linguagem.

Como você percebe a influência das redes sociais na sua própria forma de falar e escrever? Quais palavras ou expressões você notou que se popularizaram rapidamente por causa do ambiente online?

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